quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Rosacrucianismo sem reencarnação: a reencarnação de ideias.

O título pode parecer estranho para muitos, acostumados com as modernas ordens rosacrucianas (que eu chamo de ordens neorosacruzes) que via-de-regra adotam a crença na reencarnação. Porém, como já demonstrei em meu livro, o rosacrucianismo clássico (ou original) seguia a risca a doutrina protestante com um víeis místico (o que não era uma grande novidades, a igreja antiga e medieval havia produzido inúmeros santos místicos, Lutero era profundamente místico, os Morávios também e o movimento pietista, carismático e pentecostal que nascerão depois também absorverão essa carga mística). Isso é bem nítido nos manifestos rosa-cruzes originais, como podemos ver no Fama Fraternitatis:

"Mas para que também todo Cristão possa saber de que Religião e crença somos, confessamos ter conhecimento de Jesus Cristo, mantido, defendido e propagado em determinados e notáveis países (como agora nestes últimos dias, e principalmente na Alemanha, ela é muitíssimo clara e puramente professada, e está atualmente limpa e isenta de todas as pessoas desviadas, heréticas e de falsos profetas). Também utilizamos dois Sacramentos, conforme são instituídos com todas as Formalidades e Cerimônias da primeira Igreja reformada."



Assim, não seria estranho pensar que os pioneiros do rosacrucianismo não fossem adeptos do conceito de reencarnação. Porém, ouso aqui levantar uma possível reinterpretação do conceito de reencarnação conforme propagado justamente por uma das principais lideranças do movimento neorosacruz: Gary L. Stewart (ex-imperator da AMORC e atual imperator da CR+C).

Gary L. Stewart

Em seu livro chamado Atitude Desperta, que é uma coletânea de textos do autor e em um desses textos sobre o tema da reencarnação, Gary assume que no movimento neorosacruciano existe uma gama de interpretações sobre a reencarnação (indo da crença absoluta até a descrença absoluta), o que já quebra um paradigma dominante nas ordens neorosacrucianas.

Porém, o autor no texto sobre reencarnação do livro Atitude Desperta (publicado pela OMCE nos EUA e pela CR+C no Brasil), bem como de maneira mais abreviada no texto sobre regressão hipnótica do livro Realização Espiritual e Outros Artigos (Publicado pela AMORC quando ele ainda era imperator) propõe um tipo interessante de reencarnação que agrada a "gregos e troianos", a reencarnação da ideia. O autor diz que já participou de uma terapia de regressão e que segundo o terapeuta ele teria sido duas personalidades históricas famosas em uma vida passada (Gary não revela no livro as supostas personalidades), porém ambas viveram ao mesmo tempo.

"Mas há uma outra pergunta que acho que muitas pessoas realmente não consideram de forma nenhuma, e a pergunta é: Há um ciclo de reencarnação de idéias e experiências que seja independente da personalidade particular de qualquer pessoa?" (p.122)

Como seria possível essa reencarnação de ideias que pode ser vista nas terapias de regressão? Simples, para Gary o mais importante é a reencarnação de ideias. Ou seja, por sua total afinidade com uma personalidade (Talvez um santo, um político, ...) você passa a ser a reencarnação daquela pessoa, não por ser a mesma pessoa que ela foi no passado, e sim por reencarnar seus ideais. Gary sustenta ainda que essa possibilidade pode ser tão profunda que cria uma certa ligação mística entre você e a sua "encarnação passada" (ou a egrégora dela) fazendo com que você tenha facilidade de aprendizado (quem sabe até aprendendo coisas intuitivamente) com aquilo que aquela outra pessoa sabia.

"Retornemos na história ao início da Ordem e pensemos nos membros e naquilo que eles estavam tentando fazer e realizar naquela época. Acho que o que poderíamos descobrir é que a sincronicidade daquilo que une as pessoas hoje não está necessariamente relacionada com experiências pessoais de reencarnação. E se esse conceito, essa coisa nebulosa da qual falamos, for uma realidade objetiva, não é ela uma forma de reencarnação, porém sem personalidade? Os ideais, a ação de se mover ou o movimento de alcançar algo, prosseguiram através dos séculos a partir de um plano elevado de manifestação, descendo e tocando aquelas pessoas que estão se harmonizando ou se esforçando em direção a tais ideais. Elas estão sendo guiadas e inspiradas por essa tradição" (p. 126-127)

De fato, mesmo negando a reencarnação da pessoa humana, admito que a reencarnação de ideias parece bem plausível e vemos que existe um certo ciclo de ideias na história da humanidade. Quantas vezes o cristianismo entrou e saiu de moda no mundo ocidental (mesmo sem ter deixado de ser a religião dominante)? quantas vezes o paganismo saiu e voltou de moda? O fascismo encontrou seu auge até o fim da segunda guerra mundial, depois quase desapareceu, mas está retornando com força em várias partes do mundo.

Sobre a possibilidade de que espiritualmente, misticamente ou algo similar possamos acabar aprendendo intuitivamente (como um dom) algo em comum com aquela outra pessoa, como se por reencarnar as ideias de São Francisco de Assis eu pudesse por exemplo já ter clareza sobre o franciscanismo sem maiores estudos, "adivinhar" o que o mesmo teria pensado em determinada situação ou quem sabe até aprender italiano com uma facilidade assustadora, admito não ter opinião formada. Entretanto, parece que quando temos forte afinidade com a ideia de alguém do passado (reencarndo suas ideias) parece que se torna bem mais fácil o aprendizado e "captamos a mente do autor" podendo fazer deduções acertadas.

Essa reencarnação de ideias pode estar ligada com todos serem parte do mesmo corpo (inicialmente do primeiro Adão e depois do segundo Adão que é Jesus Cristo)? Não posso afirmar, mas fica o desafio aos que desejarem empreender esse estudo.