sexta-feira, 25 de agosto de 2017

A Maçonaria precisa mudar ou irá morrer.

Certa vez, o bispo anglicano John Shelby Spong, escreveu um livro intitulado "Por que o cristianismo deve mudar ou morrer" como um clamor por uma renovação no pensamento cristão. Eu acredito que um clamor mais urgente ainda é necessário aos maçons.

Recentemente, encontrei engavetada aqui uma proposta de filiação na OMCE (Ordo Militiae Cruciferae Evangelicae), ordem rosacruciana e neo-templária. E fiquei pasmo ao lembrar que a taxa de registro era de R$ 36,00 e não havia contribuição mensal estipulada, eles sugeriam uma doação de aproximadamente R$ 10,00 por mês (a ser dada de forma trimestral). Então lembrei que na Ordem Martinista Britânica (BMO) o custo de iniciação era perto do R$ 50,00 para cobrir os materiais e há uma ANUIDADE de uns R$ 20,00 aproximadamente. Daí lembrei que outras ordens como a CR+C também são bem baratas e até a AMORC que muitos questionam sobre os valores pagos para uma afiliação individual está em torno de R$ 117-200 a TRIMESTRALIDADE (fora a taxa de iniciação que é um pequeno aumento na primeira trimestralidade).


Mas, qual é o motivo de eu citar todas essas ordens? Simples! Vou dar o exemplo da minha loja maçônica, que é considerada por muitos uma loja de "baixo custo". A iniciação está em torno de 3 salários mínimos (em algumas lojas o custo vai chegar aos R$ 10.000 com tranquilidade) e a MENSALIDADE é de R$ 130,00  (em algumas lojas o valor é superior ao dobro)... Nas ordens citadas (exceto BMO), os custos cobrem o envio de materiais (livros, monografias ou outros) regulares para o indivíduo, e na maçonaria? NADA! Recebeu um grau, recebe o livrinho do ritual e acabou. Então o que ocorre com todo esse rio de dinheiro que entra na Maçonaria?

Geralmente? Serve para sustentar uma estrutura e/ou burocracia demasiado pesada das potências maçônicas. Por vezes, servem para outros fins (na loja ou na potência), como por exemplo festas e outros. Raramente tem algum fundo filantrópico mais raro ainda esse dinheiro é gasto no desenvolvimento filosófico de seus membros ("Meu povo foi destruído por falta de conhecimento." Oséias 4:6a).

Alguns podem alegar que manter templos não é nada barato e realmente não é. Porém, outras ordens possuem templos com estruturas bem similares e ainda assim possuem um custo muito menor. E sabe o "pior"? Não se trata de desvio de verbas mas, uma cultura organizacional que precisa ser repensada. Lembro quando eu era de uma loja do então Grande Oriente Independente do Rio de Janeiro (COMAB) e um senhor declarou publicamente que o problema da maçonaria atual era que ela estava aceitando qualquer um, pois a pessoa seria camelô e diria na proposta que era "empresário" para ser maçom e daí não ia ser uma pessoa que ia poder contribuir com custos. Lamentavelmente, esse senhor se tornou Grão-Mestre em outro momento. Não é a primeira vez, já vi isso em uma outra loja, um irmão se recursar a fazer a entrevista com um candidato por achar que o mesmo recebia muito pouco e achar que nossa loja se desvalorizava por cobrar "pouco" financeiramente. É esse tipo de pensamento tenebroso que está em muitos maçons (em maior ou menor nível) e por isso vemos um excesso de gastos que poderiam e DEVERIAM ser racionados.

Foto de uma loja maçônica no Haiti, que circulou na internet.
Pois é, se a Maçonaria não repensar isso está condenada a morrer no Brasil. Não morrer por falta de membros, sempre haverão os dispostos a pagar tudo para se considerarem maçons (eu não sou um deles, HOJE falo que nem que eu quisesse teria dinheiro suficiente para iniciar na Maçonaria e se eu tive condições financeiras para iniciar antes, foi por ter recebido a iniciação de presente). Porém, morrer em termos de relevância na sociedade. Sim, enquanto a Maçonaria for acessível para ricos envolvidos em escândalos de corrupção (como o presidente Michel Temer) e inacessível ao trabalhador livre e de bons costumes (como reza nossas constituições), a Maçonaria estará em um estado cada vez mais deplorável.

Foto de uma loja maçônica no Haiti, que circulou na internet.
É necessário repensarmos os gastos exorbitantes da Maçonaria atual e mais ainda, repensarmos qual é a nossa função como construtores sociais. A Maçonaria está aí para lapidar o homem e a sociedade, para tornar feliz a humanidade ou para ostentar com os vis metais do mundo? Não foi o próprio Cristo que optou por pelos mais pobres, sendo ele mesmo pobre? Não foi o místico, tão amado por muitos de nós, Jacob Boehme que também lembrou que Deus diversas vezes restaura a verdade por meio dos despossuídos?

A Bíblia em nossos altares e sobre a qual prestamos nosso juramento diz:
"Ouçam, meus amados irmãos: não escolheu Deus os que são pobres aos olhos do mundo para serem ricos em fé e herdarem o Reino que ele prometeu aos que o amam? Mas vocês têm desprezado o pobre. Não são os ricos que oprimem vocês? Não são eles os que os arrastam para os tribunais? Não são eles que difamam o bom nome que sobre vocês foi invocado? Se vocês de fato obedecerem à lei real encontrada na Escritura que diz: "Ame o seu próximo como a si mesmo", estarão agindo corretamente. Mas se tratarem os outros com favoritismo, estarão cometendo pecado e serão condenados pela Lei como transgressores. Pois quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de quebrá-la inteiramente. Pois aquele que disse: "Não adulterarás", também disse: "Não matarás". Se você não comete adultério, mas comete assassinato, torna-se transgressor da Lei."
(Tiago 2:5-11)

Aqueles que acham que uma ordem iniciática vai bem ou mal pela condição financeira de seus membros, eu não os reconheço como irmãos e sim como profanos de avental que são indignos de fazerem parte dos ideais (e é sempre pelo ideal) da Arte Real. Vale relembrarmos o que foi dito pelo maçom e martinista Papus em seu livro "Martinismo, Martinezismo, Willermozismo e Franco-Maçonaria" (Disponibilizado gratuitamente em nossa biblioteca):
"Não solicitando a seus membros nenhuma cotização, nem direitos de entrada, não exigindo nenhum tributo regular de suas lojas ao Supremo Conselho, o Martinismo ficou fiel a seu espírito e às suas origens, fazendo da pobreza material sua primeira regra. Desse modo, pôde evitar as irritantes questões de dinheiro, causa dos desastres de certos ritos maçônicos contemporâneos; assim, Também, pôde exigir de seus membros um trabalho intelectual elevado, criando escolas, distribuindo seus graus exclusivamente através de exame, abrindo suas portas a todos os que justificarem uma riqueza intelectual ou moral, afastando os ociosos e pedantes que pensam ser alguém apenas tendo dinheiro. O Martinismo ignora a exclusão de membros pelo não pagamento de cotização, desconhece o tronco de solidariedade. Apenas seus chefes são chamados a justificar seu título, participando, segundo seus graus, do desenvolvimento geral da Ordem." (p.20)

Alguns avanços foram feitos? Certamente! Algumas potências, especialmente o Grande Oriente do Brasil, já isentam os seniores DeMolays e os universitários de taxas até os 25 anos, é um grande avanço e que merece ser lembrado, porém creio que ainda é necessário avançar ainda mais e isso seria uma pauta de extremo valor a ser adotada por algum dos candidatos ao Grão-Mestrado Geral.

Este post/apelo/manifesto/reflexão é de alguém apaixonado por nossa sublime instituição, que cresceu vendo nos maçons o exemplo a ser seguido e que teme pelo futuro desta ordem que tanto amamos. Este é o apelo: Que olhemos menos os bolsos e mais os corações, que a maçonaria limite menos pelo quanto a pessoa pode arcar com taxas e mais com a qualidade dos livros que ela anda lendo e o exemplo moral que ela é. Alguém que já havia escrito este texto e, por demorar a publicar, ouviu sobre a dificuldade de pessoas que até já foram de ordens paramaçônicas e ficaram desacreditadas na maçonaria atual pelo excesso de gastos e poucos resultados em termos de evolução no nível individual e social.

Papus, no livro já citado aqui, já havia feito esse alerta para toda a Maçonaria Regular (representada em seu texto pelo Supremo Conselho Escocês):
"Que os membros do Supremo Conselho Escocês, ao lerem estas linhas, possam refletir um pouco e sair um momento da atmosfera estreita das querelas de pessoas e das questões de dinheiro. A salvação da obra paciente se seus antepassados está em suas mãos; nosso papel deve limitar-se no lançamento do grito de alarme. Ademais, sabem disso e nada temos a lhes ensinar a esse respeito. Podemos ter plena e inteira confiança em sua clarividência e patriotismo." (p. 52).

2 comentários:

Alexandre Kappaun disse...

Parabéns, irmão Morôni! Concordo totalmente. Belíssimo artigo desabafo! Devia ser leitura obrigatória em todas as lojas.

Ademilson Luz disse...

Excelente reflexão e que sirva de alerta à todas as potências maçônicas do Brasil.

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