terça-feira, 22 de agosto de 2017

Sobre a polêmica entre maçonaria e catolicismo-romano

Algumas polêmicas costumam reaparecer com certa frequência, uma delas é a se um católico pode ou não ser maçom. A polêmica reacendeu após circularem as fotos de uma missa feita para maçons. Vamos tentar tratar deste cado de forma simples e sem paixões.

Antes de iniciarmos a discussão, precisamos entender o que é ser católico. Para começar o catolicismo não é uma igreja e sim um ramo da cristandade. No Brasil, costumamos chamar de católicos apenas os membros da Igreja Católica Apostólica Romana (aquela sob jurisdição do papado no Vaticano). Entretanto isso é um equívoco enorme:

1) Existem igrejas católicas independentes do papado, por exemplo: Veterocatólicos, alguns grupos sedevacantistas (que não reconhecem o papa como legítimo papa), Igrejas católicas nacionais (como a Igreja Católica Apostólica Brasileira) e etc. Todos são católicos, na tradição ocidental, porém não possuem qualquer relação com o Vaticano.

Um arcebispo anglicano, um papa católico-romano e um delegado ortodoxo.

2) Os ortodoxos e anglicanos por vezes são considerados ramos distintos do cristianismo, por vezes são considerados como parte da grande família católica. De fato, ambos reivindicam sua catolicidade. Os ortodoxos são católicos de tradição oriental, sem vínculos com o Vaticano (católicos-romanos e ortodoxos alegam que o outro é uma cisão de si mesmo) e os anglicanismo como simultaneamente católicos e protestantes.

3) Entendendo que a palavra católica quer dizer universal, algumas igrejas protestantes não negam a sua catolicidade (luteranos, presbiterianos, morávios, metodistas).

Então, partindo desse princípio, não há problema em ser católico (no sentido amplo) e ser maçom. Porém, se formos querer saber se um católico-romano pode ser maçom a pergunta é mais complicada.

Por parte da Maçonaria não há qualquer impedimento, já que a única exigência é que a pessoa creia em Deus. Porém, a Igreja Católica Apostólica Romana proíbe e não há como discutir isso, dadas as particularidades de sua doutrina. Pode ser que isso mude um dia? Talvez, até lá continua proibido por parte do Vaticano.

Mas, um católico-romano pode muito bem ferir a doutrina de sua Igreja e enquanto não for descoberto, continuar na instituição. Não é atoa que no Brasil temos católicos-romanos maçons, tem até um grupo chamado "Católicas pelo direito de decidir" que defende o aborto (embora fontes da Igreja digam que esse grupo é não é realmente de católicas, sendo apenas uma tentativa de legitimar tal situação),  ...

Como diz o famoso comentarista de futebol: "A regra é clara", entretanto não serei eu a discriminar algum maçom que seja católico. Ele que resolva os problemas dele lá com a sua instituição religiosa ou que se mude para uma instituição na qual ele não precise viver uma vida dupla (as igrejas católicas nacionais, ortodoxas, anglicanas, etc).

Em ambas as fotos, vemos o famoso escritor maçom e clérigo anglicano Rev. Neville Barker Cryer, em uma das fotos junto com outro clérigo também em trajes clericais e maçônicos simultaneamente.

E os casos como o noticiado no inicio do post, no qual alguns padres aceitam maçons e/ou são maçons? Bom, nesse caso, vale lembrar que em uma instituição tão grande, é natural que não seja viável controlar tudo e todos. Sobre os motivos da proibição, nós temos os oficiais (que deixarei aos interessados para procurarem) e também uma constatação histórica simples: A maçonaria é um fenômeno tipicamente protestante (igual o rosacrucianismo original).

Sim, não é atoa que vemos uma próspera maçonaria (com ótimas religiões com as igrejas evangélicas/protestantes) em países como o Reino Unido, Estados Unidos e Suécia. Em países católicos (França, Portugal, Espanha, Brasil) temos maçonarias bem peculiares e que fogem do script.

Na França, por um lado, tivemos uma maçonaria extremamente esotérica (e que influenciou muito os países latinos), com forte presença e de pessoas apaixonadas pelo ocultismo/magia/etc, perfil bem similar ao da maçonaria brasileira e que gerou grandes nomes como Martinez de Pasqually, Willermoz, Louis Claude de Saint-Martin e Papus.

Por outro lado, a maçonaria dominante na França atual (e em outros países por ela influenciados) é a maçonaria irregular do Grande Oriente de França, que aboliu a necessidade da crença em Deus e transformou a maçonaria em uma instituição basicamente política, agnóstica e com fortes tendências anticlericais. Não é atoa que muitos líderes revolucionários surgiram na maçonaria desses países (antes ou depois das reformas): o anarquista-mutualista Proudhon (França), o anarquista Francisco Ferrer Guardia (Espanha), o socialista rev. Atilano Coco Martín (Espanha), ...

Foto da loja maçônica Constante Alona, na qual o Rev. Atilano Coco Martín era membro.
Enquanto essa relação com a Maçonaria nos países católicos sempre foi tensa, nos países protestantes a coisa fluiu melhor. Aliás, nesses países católicos, muitas vezes os protestantes e a Maçonaria se atraíram mutuamente. No Brasil, vemos muitas igrejas evangélicas contra a Maçonaria, algo bem diferente do que era até algumas décadas no passado. Sim, a maçonaria e as igrejas evangélicas se defendiam tão fortemente que isso levou aos maçons dominarem o alto escalão de várias igrejas (o que foi o maior erro tático que cometeram e levou ao surgimento do antimaçonismo evangélico brasileiro).

0 comentários:

Postar um comentário